Chama a atenção as condições de manutenção do antigo seminário dos Jesuítas, lugar em que se encontra provisoriamente instalado o curso de Direito da UFPB – Campus de Santa Rita. A carência de recursos para um curso novo, criado pelo Reuni do governo Lula, deve ser muito grande.
A conservação do prédio histórico, tombado
pelo instituto do patrimônio, deve ser uma prioridade daqueles que o têm
usado – nesse provisório sine die – evitando a deterioração das condições deste
monumento arquitetônico de quase 500 anos, inclusive para evitar riscos a usuários e danos ao patrimônio.
O prédio ainda guarda muito de suas
características originais. A edificação foi erguida em 1586, pelos Jesuítas
chegados à Paraíba com a finalidade de catequizar os gentios. Sua destinação
explícita foi a de servir como Casa do Colégio dos Jesuítas, que ali
lecionavam humanidades, além, naturalmente, dos rudimentos cristãos. Ao seu
lado, isto é, onde hoje existem os jardins do Palácio da Redenção, havia a
célebre Igreja de Nossa Senhora da Conceição, monumento barroco infelizmente
destruído por inteiro.
Nesses últimos anos em que a UFPB ocupa o
prédio com a instalação do curso de Direito de Santa Rita – município da área
metropolitana da capital – de uma forma geral a conservação tem se restringido
a pintura de paredes, troca de lâmpadas, e, algumas obras de adaptação ou
imprescindíveis para manter as salas de aula, como recentemente quando parte do
teto uma sala de aula desabou por ação dos cupins (por sorte em horário que não
havia aula), e algumas linhas, caibros e ripas foram substituídos.
Na parte elétrica, as instalações antigas são
adaptadas para receber ventiladores, ar condicionados, computadores e outros
itens de nossa vida moderna, com uma carga no limite, e as inúmeras gambiarras
proliferam.
Na parte hidráulica, um sinal claro e
preocupante da ação do tempo e da necessidade de manutenção se manifesta no
teto do banheiro do primeiro andar, onde existe a caixa-d´água que abastece
torneiras, WCs e bebedouro do prédio: estalactite.
Isso mesmo, apesar de exigir a ação do tempo
para se formar, a foto acima é de uma estalactite existente dentro de um
banheiro de um prédio tombado pelo patrimônio histórico e que é usado por cerca
de 700 estudantes de direito.
À rigor, estalactites são formações
rochosas sedimentares que se originam no teto de uma gruta
ou caverna, crescendo para baixo, em direção ao chão da gruta ou
caverna, pela deposição (precipitação) de carbonato de
cálcio arrastado pela água que goteja do teto, através de
fissuras, ao longo do tempo.
No caso das edificações, elas surgem no que a
engenharia chama de mal das infiltrações, e que são capazes de grandes estragos.
Os resultados mais comuns são manchas
localizadas em forma de elipses (neste caso, geralmente o vazamento está no
centro da figura, e é causado por falha de concretagem), manchas lineares
(indicam fissura na impermeabilização) e estalactites de carbonato brancas
(indicam exatamente o ponto de passagem da água). Esta última ocorre devido à
dissolução da cal liberada na hidratação dos silicatos de cálcio do cimento.
Esta cal dissolvida, ao chegar na superfície do concreto, é carbonatada pelo
CO2 da atmosfera, tendo como conseqüência o aparecimento das tais estalactites.
Este silencioso efeito patológico gera alguns
dos mais gravosos transtornos produzidos pelas infiltrações, sendo um dos mais
sérios o ataque às armaduras de lajes, vigas e pilares de concreto. O
resultado? O comprometimento da estrutura da edificação pela sua ação de forma
contínua 24 horas por dia.
Mas isto é assunto para a engenharia e para o
patrimônio histórico.
Por aqui, cabe apenas o alerta para as
autoridades de que a conservação do edifício que momentaneamente nos abriga
precisa ir além da vassoura e do cal, e que, ao menos enquanto ainda estamos
“provisoriamente” fazendo uso desse monumento, sempre é melhor prevenir do que
remediar.
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